sexta-feira, 27 de junho de 2008

Nem tudo são flores

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Falar de dança não é sempre uma tarefa fácil. Precisamos muitas vezes de ferramentas que nem todos possuem, principalmente em se tratando de um bailarino falando do trabalho de outro. Pois o que nós bailarinos sabemos com certeza é a respeito de movimento, aquele que na maioria das vezes nos motiva a dançar. No entanto estou caminhando em busca de tais ferramentas que me possibilitem olhar a minha dança e quem sabe a do outro com mais cuidado e propriedade.
Hoje como bailarina e intérprete assisto a muitos espetáculos de dança sempre que posso. Como é muito do senso comum há aqueles em que gostamos e os que não gostamos. Aí é que mora o perigo! Será que é certo gostar por gostar e não gostar por não gostar? Me fiz essa pergunta muitas vezes ao longo de minha vida como espectadora de dança. Porém encontrei especificamente ontem a resposta para essa pergunta, e acredito que foi por causa das poucas ferramentas que venho me apropriando. Assisti 2 espetáculos completamente diferentes em tudo, até no contexto em que eles se encontravam. O primeiro tinha um formato bem redondinho , onde se encaixava em suas características, perfeitamente dentro das regras de FESTIVAL DE DANÇA, onde este se inseria. O segundo que assisti pouco mais de meia hora depois, seguia na contramão de um formato de FESTIVAL. Por sinal foi o que particularmente "mais gostei". Vou aqui tentar explicar com as poucas ferramentas que possuo o porquê gostei mais de um e não do outro.
O primeiro inserido no FESTIVAL não conseguiu me prender a atenção, embora segundo comentários nos bastidores, "temos uma metre de ballet excepcional e muito, mas muito mais famosa que a Toshico"( palavras de um bailarino do elenco em uma conversa totalmente descontraída que tive com ele, poucos minutos antes de seu grupo entrar em cena). Os bailarinos eram realmente muito bons tecnicamente, isso talvez fosse mesmo pela tal metre de ballet. Porém deixou a desejar em termos de construção coreográfica, era movimento pelo movimento a exploração máxima da técnica e das habilidades de cada bailarino, não me parecia que existia pesquisa (posso estar totalmente errada), não tinha algo que me fizesse refletir questões pertinentes a contemporaneidade. Para mim era um trabalho com características bem modernas em sua composição estética, embora eles se intitulassem o trabalho como sendo de dança contemporânea. Bailarinos colocadinhos em cena, havia a preocupação com a frontalidade, o figurino entregava que aquilo era um espetáculo para FESTIVAL, tudo bem igualzinho do cabelo ao tênis. Não mexeu comigo, meu filho de 1 ano e 7 meses que adora assistir dança, não teve paciência de esperar até o fim. Daí você deve estar se perguntando, o que um bebê entende disso? Ah!!!!Muita coisa eu garanto!!!!
Bem os segundo espetáculo do qual "gostei", provocaram em mim diversas questões já logo no início. Os bailarinos em cena não possuiam em sua Cia uma "metre de ballet excepcional", mas carregavam consigo uma experiência de vida que se fazia latente a cada instante em que prosseguia o espetáculo. Todos os bailarinos possuiam ALMA e não executavam movimento pelo movimento. Todas as cenas tinham a medida e o tempo certo, sem contar a iluminação que foi fantástica para a construção de todo o trabalho. Nada exagerado, nada redondinho e com uma fórmula pronta. A pesquisa que fizeram era clara em sua existência, havia propriedade no trabalho, além é claro de uma interação muito interessante com o público que o outro espetáculo não explorou. E MEU FILHO PRESTOU ATENÇÃO DO COMEÇO AO FIM.
 
©2007 '' Por Elke di Barros